Quando minha atividade no www.armazem.literario.nom.br era intensa, e espero que dentro de pouquíssimo tempo possa voltar a ser, vivíamos em época onde a internet era uma beleza, uma grande novidade, mas lenta demais. E grande parte dos internautas amavam mandar midis e elas era poderosas para acabar com a pouca velocidade de então. mas leia o texto abaixo, ainda com meu nome de casada e vejam, bem mais abaixo o que recebi e que acabou dando título a estas bem traçadas linhas:
Brigar com poeta dá nisso…
Em nossa luta diária pela sobrevivência e a realização de nossos mais caros sonhos, encontramos um ajudante que ora nos auxilia e muito, ora nos faz subir pelas paredes. Falo das mensagens que podemos receber/mandar o dia inteiro para todo mundo.
Na maioria das vezes dá tudo certo, as coisas correm sobre trilhos azeitados, mas às vezes nos deparamos com pessoas que adoram mandar midis, fotos, paisagens, céus azuis cheios de brancas nuvens que enegrecem nossos dias. São mensagens pesadas que embaraçam a rotina dos programas de recebimento de e-mails e nos levam simplesmente à loucura.
Se pudermos simplesmente limitar o tamanho das mensagens a receber, usando os recursos do programa, muito bem, mas no meu caso é complicado, pois preciso receber fotos e capas de livros scaneadas e muitas vezes passam um pouquinho do peso funcional, por falta de conhecimentos suficientes do remetente. Porém, às vezes, tais torpedos são enviados por pessoas que têm máquinas velocíssimas e dinheiro para sustentar horas e horas de navegação e envio de mensagens. Cheguei ao cúmulo de esperar por 23 minutos para receber uma midi, fiquei tão irada que deletei sem ver detalhes.
Parece que tais pessoas fazem ouvidos moucos quando reclamo e peço para enviarem apenas texto. Acredito que a beleza de um trabalho literário para nós que somos artífices da palavra, que ocupamos nossos mais preciosos momentos em desnudar nosso eu através da linguagem escrita, uma musica, um plano de fundo pesado, não irão alterar o conteúdo valorizando a mensagem. Nós não temos nas telas, pincéis e filmes fotográficos a expressão máxima de nossa criatividade, usamos apenas o alfabeto para formar palavras.
Não adianta os mideiros tentarem nos transformar, apenas o texto bem elaborado fala à nossa alma, o mais, apesar de bonito, não passam de detalhes aos quais não estamos inclinados.
Tenho uma amiga, Maria do Carmo Ferreira, que foge completamente a tudo que foi dito acima, ela faz poesia, muitas e belas poesias. E veja só, adora midis e principalmente enviar midis do Rio de Janeiro para o mundo. E eu, aqui em Aracaju/SE ainda morro disso. Já pedi, implorei, de todas as formas e ela como boa mideira, nada! Ouvidos mouquinhos da silva e eu ali, vivendo em desespero. Não queria impedir que as mensagens dela entrassem em meu computador, por chegarem poemas no formato texto e lindas mensagens pessoais.
Tempo de tortura poderia ser o título de nosso relacionamento. E assim era, antes de abrir o correio, era obrigada a ir pelo Webmail verificar quais mensagens deveriam ser deletadas, e ali estavam: 300, 400, 500, 600, 700, 800, 900, 1243 kb. Tudo vindo em formato de midis e eu ali, firme, deletando tudo. Era isso ou ficar com o computador lento e travando.
Um dia, depois de várias mensagens pedindo moderação, enviei a que segue:
Carminha!!!
Vou ai lhe bater se tornar a mandar estes chumbos para euzinha, claro que aproveitarei para lhe dar uns abraços, mas que bato, bato! Retire meu nome do meio dos outros a quem você tortura com esses blocos de granito. Deixe meu endereço só no coração. Certo? Um abraço em K.
Malva
E vejam o que recebi e que acabou dando título a estas bem traçadas linhas:
DEIXE O MEU ENDEREÇO NO SEU CORAÇÃO GUARDADO
(para Malva Barros Oliveira)
Retire o meu nome do meio dos outros
a quem você tortura
com esses blocos de granito
na vã esperança de veicular a beleza
pela cor, som, figura e outras amenidades
como se conseguisse maquiar a natureza,
tornar verde a azeitona, e verde um pé de alface.
Retire o meu nome da lista pesada
que barra sua caixa de saída
e trava minha caixa de entrada.
Deixe para os incréus as asas da esperança
o louva-a-deus de mãos postas,
a formatação, a fonte de onde não jorra a água viva que a sede estanca
e está contida no âmago da palavra
não nessa rede de intrigas, nessa Intenet vedette
que para vender seu peixe lança mão de expedientes
e joga pesado mesmo, se a podridão já se adianta.
Deixe meu endereço apenas no coração.
Lance mão dele quando estiver sem mãos.
Conte com ele para o dia-a-dia
da beleza intransmissível
da alegria de um abraço, do beijo doce de um filho
e abuse dele à vontade
para dizer só com palavras
que entrou em erupção o seu vulcão em lavas
de fogo demolidor, e que um fósforo aceso e desprezado
queimou quilômetros da mata virgem
em que você jamais havia penetrado.
Deixe o meu endereço no seu coração guardado
porque haverá ocasião
em que ele sairá do peito para ficar do seu lado,
mesmo calado, mesmo esperando
que se transmutem o tempo e as estações
e novos céus e novas terras já se abracem
para falar de amor às multidões.
Maria do Carmo Ferreira (Niterói,30.10.2000,19,30PM) cadmo…@terra.com.br
E depois de tudo isso, o rosto banhado em lágrimas precisava responder e foi assim que o fiz:
Carminha chorei feito uma bezerrinha desmamada. Agradeço a homenagem tão grande a umas frases bobinhas. Ah minha querida, que dom Deus lhe destinou nesta vida! Quero um bem imenso a você sem nunca tê-la visto. A internet é ora mocinha, ora bandida, pode ser chamada de mocidida que é a mistura das duas, mas ajuda a unir pontas esparsas. Veja que hoje ouvi a voz de Rosângela Scheithauer, lá da distante Áustria, que não se contentou com o e-mail e veio falar de coisas diversas, mas o que senti, foi um afago dela no coração logo pela manhã e agora um seu, meu bem, Deus hoje se lembrou mesmo de mim…
Mas não mande mais cargas pesadas ou vou aí e bato em você…
Beijos
Malva
Atenção: Qualquer produto citado neste post não é um medicamento e não substitui o tratamento médico. Terapias citadas neste post não substituem a visita ao seu médico regularmente.